domingo, 23 de outubro de 2011

Vestibular



Terminando o Colégio Objetivo, foram umas 10 provas feitas todas sem sucesso na capital, interior e até em sul de Minas. No ano seguinte, 1976, depois de mais um ano de cursinho no mesmo Objetivo, a 11a prova, desta vez o unificado do CESGRANRIO no Rio de Janeiro.
Saimos de Sampa num corcel, sem galope, emprestado do pai, minha irmã e um velho amigo, todos colegas de sala, cada um com seu sonho: prestar medicina... Precavido, dia anterior, conhecer os locais e o trajeto, logística naturalmente...
Hotel na Rio Branco, fomos escalados todos nas escolas da Zona Sul, no Jardim Botânico os dois e eu na Gávea. Íamos todos os dias pela paisagem relaxante do aterro, seguia depois de deixá-los ao lado do Hospital da Lagoa, para a praça do Flamengo e do Miguel Couto, local das minhas provas.
Sempre primeiro a sair, sem paciência, fazia o que sabia e chutava o resto, mas com muita crítica e responsabilidade, aplicando toda a técnica assimilada no cursinho. Aliás, é assim até hoje, destaca-se da maioria cursinhos exatamente nesse quesito, além de ensinar as matérias, orientações e dicas de como se comportar e pensar nas provas, aplicando técnicas de marketing, psicologia e neurolinguística. Para cravar um xis aleatóriamente, existem técnicas!
Foram quatro dias, até que tranquilos. Terminado antes, aguardava calmamente fazendo um lanche, um sanduíche de carne assada ou pernil, acompanhado de um chopp ou coca, num tradicional boteco na Rua Faro, ouvindo as discussões habituais após provas...
Retornando a São Paulo, ainda frequentando às aulas, mas com desconfiança. Desta vez fui melhor, tinham mais vagas... talvez quem sabe...
No dia aguardado, no jornaleiro VIP em plena Paulista, folheio O Globo e encontro o meu número, conferido e reconferido, em meio a tantos outros!! Sensação muito estranha, como poderia ser possível? Existia uma pressão habitual para aprovação, afinal esse é o primeiro gargalo da vida adulta de qualquer estudante. Preguiçoso e desmotivado, estudava somente o suficiente. Assumido o compromisso de prestar para medicina, conhecia a realidade... Afinal, nem era minha a escolha. Submissão à uma sabedoria materna que aconselhava e explanava como a vida seria mais valiosa sendo doutor...
E agora? Este fato aguardado mas inesperado... Não sou mais um fracassado! Será possível, assisitndo apenas com afinco às aulas-shows de Heródotos e Dráuzios foram suficientes? Foi a recompensa pelas noites sem jantar na pensão da Dona Leide? Foi um triunfo sem luta? Agora não importava mais...
Foi definitivo, assimilei o meu destino com uma outra motivação, superando a insegurança e dúvidas da minha própria capacidade, uma nova chance por um outro caminho...
Com ganho contabilizado, empenho dispensado, tranquilidade almejada. Mesmo assim, após 30 anos, sonho ainda com escolas, fazendo provas que não entendo, e ao acordar, percebo, não tão aliviado, de ter sido apenas mais um pesadelo que permanece como estampa, impregnada no meu subconsciente...

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