segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Beleza se põe à mesa



Há alguns séculos as mulheres se sentiam lindas e seguras, somente pelo vestuário usado, cabelos arrumados e até pela pinta postiça na era Luiz XV. Certamente por baixo das roupas, onde poderia se esconder tudo, revelava-se sem medo, sob luzes de um candelabro a mercê dos tatos do senhor feudal.
Num mundo moderno, pré-feminismo, bom comportamento e ser uma boa mãe bastavam para uma vida plena de realizações. Cuidar de si não estava nos planos...
Queimaram-se sutiãs, adotaram-se calças compridas. Trabalho e casa, independência relativa, mais do que nunca tempo de afirmação. Roupas, sapatos, maquiagens... Moda acessível prêt-à-porter, cuidado com a saúde, atividades físicas, um novo momento.
Agora, com a velocidade multimídia, onde ontem já é passado remoto, a sociedade vive valores descartáveis. 
O figurino impecavelmente na moda, acessórios condizentes, todos de grife, muitas vezes exclusivos. É preciso apresentar-se bem. Não basta ter projeção profissional, usar toga, comandar equipes, ou ter estrelas nos ombros...
Já na adolescência almejam engajamento, adotam padrões de consumo e comportamento, compensando a total falta de individualidade, afim de serem aceitas no seu nicho.
... E ter 30 anos já é handcap. Buscar a perfeição, artifícios imprescindíveis. Na compulsão de manterem-se jovens, práticas cosmiátricas fazem-se cada vez mais necessárias. Procedimentos de mise-en-scéne, milhares de produtos criados e lançados a cada segundo, suprindo uma demanda reprimida.
Aplica-se um, retira-se com outro, deixa-se meia hora...
Ácidos de frutas tropicais acondicionados em águas termais das montanhas alpinas; óleos de sementes de exemplares das ilhas da Polinésia; cápsulas de proteínas de algas marinhas dos mares do norte, produtos que vão e que vem, na velocidade dos anúncios de Polishop...
Na ditadura da beleza, mulheres escravizadas nessa prisão psíquica, buscam o limiar inatingível de beleza imposta pela mídia, corroendo a autoestima, levando a frustração infinda.
Chegando a maturidade, burlam a própria imagem e negam a biologia. Acreditam que ainda vale a pena e esperam reconhecimento. Têm um pouco de dúvidas mas não lhes resta muito, há que seguir o curso. 
A realidade imparcial é cruel, imposta pelo implacável tempo.

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