domingo, 29 de abril de 2012

Orelha seca



Dia após dia a vida passa
Monótona e rítmica em forma de sobrevida.
Faz de tudo, é braçal...
Recebe nada, não é qualificado.
Na aurora, meio pão com margarina
Deglutido com média de leite aguado,
No almoço divide a marmita
Só pra abafar o rugido do estomago
Levando o resto para casa
Ao fim do dia, no fim da cidade
Compra acém para mistura
Hoje tem fartura...
Trocados por passes que poupou ao andar
Cozinha com ripas no fogo
Gás acabou há muito
Crianças choram em coro
Dividem o leite com a vizinha
Pelo menos não faz frio
Restam ainda 2 galões de água.
Cidadão por inteiro no sufrágio
Mas apenas fração no direito
Não sabe o que é capitalismo
Nem tem tempo para perceber
Toca a vida sem parar
Seu futuro está previsto:
Aos sábados no bar,
Futebol de domingo
E Carnaval em fevereiro...

domingo, 22 de abril de 2012

Puppy love





Conversas evasivas, pensamentos em outro patamar, essa agradável sensação de apenas ficar ao lado.
Mãos extendidas correspondidas. Entrelaçam-se os dedos longos e delicados. Unhas perfeitas entre as mãos mais rudes.
Não carece prestar atenção no que se diz. Escutar apenas... Lábios se movem e ouve-se apenas sons ritmados em melodia em meio aos movimentos da boca. Pausas para sorrisos...
Parados, sem assunto, calados, apenas um aperto nas mãos...
-No que está pensando?
-Nada …
Capazes de ficar dias, semanas, meses... Nada incomodam...
Não precisam falar nada, explicarem nada, apenas o olhar entre os olhares e a repiração dispara...
Que intenso... foi imenso ...

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Adoráveis geminianas



Agora,
Está zangada!
Não fala direito nem responde,
Também não quer ouvir.
Vaga com vento ao rastro do perfume
Tem raiva, nada importa, deseja a morte...
Agora,
Está linda e carinhosa!
Radiante com seu brilho,
Espontanea
Amor inteso dentro de si
Momento sereno, mulher feliz...
Agora,
Está indiferente, está distante!
Nada dispersa do seu peito trancado
Tem prioridades que não me incluo
Não se importa, não liga, não se manifesta,
Mística, adorável...
Mas sempre,
Como diamante de várias faces!
Lapidada, segura de si.
Não precisa de luz,
Não precisa do calor
Poderosa e prepotente,
Forte e vulnerável na aparencia
Tem sempre o controle,
Não precisa de mim
Não precisa de ninguém...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Meu anjo da guarda





Maravilha, é bom ter mãe!
Descupem-me mas tenho um anjo da guarda...
Corria e brincava: caio e choro, vinha ela a me consolar.
Levava-me junto, minha irmã, íamos a padaria. Numa TV na parede era a hora do Pica-pau e ríamos como numa brincadeira. Horas de simplicidade...
Nos contos e lendas, imagino personagens e cenas, vivo as histórias que vinham mágicas da sua voz ritmada.
Hora de dormir, hora de sonhar, nem sempre hora de tranquilidade.
Às vezes assustadora, acolhia-me com a sua mão extendida segurando suave a minha...
Sempre cedia me dando a melhor parte, nunca fez questão.
Brigava sim mas me acarinhava. Sempre me privilegiou...
Chorar era a rotina e a minha irmã a me amparar com paciência
Como a irritei algumas vezes, tive ciúmes do seu namorado,
Teimoso, sempre me achando, ela me suportava.
Ensinava as lições da escola mas ficou também a da vida.
Tempo passou e uma lacuna ficou. Do seu jeito reservado sei que me apoia e sei que me ama.
Longe agora a distância diluiu os laços.
É tempo agora de ajudar a me ajudar
Velhos, independentes, temos outras preocupações.
Solitários por opção ou destino quis assim...
Podia ter sido feliz ou isso talvez já seja a realização.
Nosso equilíbrio se foi, era o porto seguro,
Agora lembranças, repousa em uma urna
É a minha deixa, 
O reconhecimento não me isenta 
Minha vez de me preocupar,
Preciso desse anjo que tanto me acalenta..



terça-feira, 27 de março de 2012

A aurora da minha vida




Tinha coqueiros em frente a escola
Uma praça, obelisco e a igreja matriz
Pipoqueiro e sorveteiro; quebra-queixo e manjar.
Pedras portuguesas pretas e brancas num mosaico que não me recordo
Foi quando criança, colecionando figurinhas, onde passava as tardes...
Vieram as baladinhas anos 70
Trocava olhares na escola pra na hora poder chegar
Vestia uma batinha florida e salto anabela,
Ana Lúcia minha namoradinha
De bike indo trabalhar passava pelo portão
Um sorriso correspondido, valia a pena...
A tarde na volta uma paradinha
Um beijo rápido pra ninguém reparar...
Fim de semana habitual
Cuba libre na alta
Dançando colado ao som chiado em alto volume
Tocando Without You e Skyline Pigeon.
Globo no teto rodando,
Num reflexo que parecia alucinado,
Na penumbra conveniente
Até a meia noite, era até quando durava...




domingo, 25 de março de 2012

Lixo da praticidade



Shoppings são ótimos... Vida moderna, agitada, tempo curto... Local onde concentra maior número de pessoas comuns, medianas, medíocres... Longe de ser uma crítica no sentido estrito, mas talvez estrito no sentido de uma crítica.
Um centro de compras, com facilidades de acesso e segurança, hoje vende-se também um lazer hermético.
Ah... A praça de alimentação... Refeitório chique com rações variadas,  ante-sala dos cinemas, primor em atendimento de última classe:

-Por favor poderia me dizer se qual as combinações deste prato?
-Aqui você só paga! responde a troglodita travestida de atendente da caixa registradora....

Senhas para retirar o bandejão, suco de compahia aérea, chopp num copo de plástico, piquenique burgues com requinte de proletariado. Junk food pré-fabricados temperados artificialmente com sabor qualidade, degustados em mesas pregadas no chão.
Lounge com brinquedos eletronicos consumidos via cartão magnético, para a tranquilidade dos pais modernos, sem ralados de joelhos, skates ou roupas enlameadas de jogos de futebol no terreno baldio.
Certo ou errado, reflexo da modernidade. Novos hábitos instituídos. Talvez gerações atuais tenham saudades dessa época como temos hoje dos domingos nos estádios com o pai, enrolado na bandeira do time ou dos almoços com família num restaurante chines.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Leoa





Fascina pela força,
transcende a sua beleza
Vivida mas juvenil,
teve o tempo antecipado
Sofrida mesmo amada,
Não é compreendida...
Teme pela felicidade,
não a sua,
mas de quem dela depende.
É mulher, é bonita.
É mãe, é leoa.
Mostra a garra numa suavidade felina,
na luta, na sobrevivencia,
no amor , na delicadeza...
Um encanto de imagem,
quase miragem
de ternura e amor.
Suas palavras vêm com força,
sua honra é valiosa
e desistir não consta.
É garra e carinho.
Luminosa... calorosa...
Seu perfume faz sonhar,
tem sabor o seu olhar.
Também é menina,
dá vontade de cuidar.
Seu abraço silencia,
nem palavra, nem pensamento...
Seu beijo delicado faz despertar,
revolver sentimentos,
devolver a paixão,
há tempo sedimentada
e há muito esquecida...